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terça-feira, maio 27, 2008

Curumin - Japan Pop Show

Luciano Nakata mais conheçido por Curumin é um dos artistas brasileiros que tem merecido mais atenção nestes últimos tempos na minha jukebox. Cantor, compositor e multi-instrumentalista Curumin apresenta este ano o seu segundo disco de originais, Japan Pop Show pela editora Quannum Projects, com participações de nomes tão importantes como os Blackalicious, Lateef ou Marku Ribas que revestiram o samba de hip-hop, de Soul, e algum dub, seguindo uma nova perspectiva.

Lucino em Japan Pop Show fala de politica, de corrupção (" Nem tudo o dinheiro pode comprar/ para todas as outra existe o meu mal estar card..." - "Mal-Estar Card"), entre preocupações com o ambiente patentes no tema "Kyoto" onde teve a participação dos Blackalicious e de e Lateef MC do DJ Shadow e o resultado é um tema hip hop muito bem conseguido.

Em 13 temas Curumim expõe o samba a uma experiência pop inovadora que depressa me chamou atenção, quer pela diversidade de influências que Curumin absorve neste álbum, quer pelo fantástico som do disco, o estilo de produção, os modos captação e as tecnologias de gravação fazem de Japan Pop Show eclético e muito recomendado.

Deixo-vos com uma entrevista que encontrei em http://www.g1.globo.com/ onde Curumim dá a conhecer este seu novo álbum.

"G1 - Por que você escolheu “Salto no vácuo com joelhada”, uma música instrumental e com uma cara diferente de tudo o que costuma fazer, para abrir o álbum?

Curumin - Fiz essa opção porque ela começa calminha, na boa, e vai te envolvendo até chegar num beat pesado, impactante. Meio que diz "aê, cumpadres, cheguei!". E acho que, por ter uma cara diferente, dá uma instigada na curiosidade, deixa as pessoas querendo saber o que é que vem depois disso.

G1 - Por falar em direcionamento, em "Japan Pop Show" você expande as sonoridades que já vinha trabalhando antes. "Magrela fever", por exemplo, começa com uma espécie de riff de metal. Você sentiu uma necessidade de mudar ou foi algo natural?

Curumin - Acho que as mudanças foram bem naturais. Afinal, faz cinco anos que eu lancei o "Achados...", e esse tempo foi o bastante pras mudanças desse disco. Ao mesmo tempo, acho que tem uma raiz do trabalho que continua a mesma, que é a brincadeira com os ritmos. As referências continuam ligadas aos ritmos afro-americanos, como samba, reggae, funk, soul, rap, baião, dancehall, etc. Outro dia estava conversando com um amigo sobre esses gêneros musicais e como fica cada dia mais difícil defini-los e chegamos a uma conclusão: o que eu faço é samba. No primeiro e nesse disco: samba. Claro que não é o samba tradicional, mas também não entendo o samba só como uma coisa tradicional e estática. O samba evoluiu e se misturou com outras coisas, mas tem ainda a essência do samba (aliás, ele também veio de uma mistura, com referências africanas e européias). Parece meio absurdo, mas quem for num show vai entender. A gente está fazendo samba. Agora, um adendo sobre o riff de metal: preciso confessar, eu era metaleiro quando criança, fã de Iron Maiden. Vai ver que foi isso...

G1 - "Kyoto", "Mal estar card" e "Caixa preta" têm uma pegada crítica. As músicas surgiram da vontade de fazer algo nesse sentido ou foi “coincidência”?

Curumin - Esses últimos anos foram intensos. Mensalão, ecologia, guerra no Iraque, EUA se quebrando, China, avião caindo, Corinthians na segunda divisão, criançada morrendo de forma estranha, corrupção, América sul esquerdista, Europa direitista, e por aí vai. Teve bastante assunto pra se falar. Os caras do Blackalicious me convidaram pra fazer um riddim (cantar uma outra música em cima de uma base do disco). Fiquei pensando "putz, vou dar uma espetada nos gringos", e falei sobre o protocolo de Kyoto, porque os EUA eram um dos poucos que não aceitavam assinar na época. Mas daí a gente fez uma outra base, começou a tocar nos shows e o tema foi ficando cada vez mais atual. Já “Caixa preta” eu fiz inspirado na queda do avião da TAM e essa impressão de que a gente nunca fica sabendo o que de fato acontece e sim o que os outros querem que a gente saiba. “Mal estar” é pra Daslu.

G1 – Como surgiu “Sambito”, cantada em japonês?

Curumin - É mais uma brincadeira. Mas em japonês caiu tão bem que deu outro sentido pra letra. E nesse outro sentido, pra mim parece que Sambito é um personagem, tipo um tamagochi ou um picachú e eu fico falando como ele é legal. O refrão traduzido é assim: “Sambito, Sambito, meu único amigo, meu único amigo”.

G1 - Como foi o processo de gravação de “Japan pop show”?

Curumin - Nesse disco tem bastante programação. Gravei mais violão, bateria e uns teclados. O Lucas [Martins] gravou mais os baixos e alguns teclados também. Além disso, chamamos outros músicos que admiramos pra tocar, como o Ganjaman, o Tejo, o Catatau, o Loco Sosa, o Tommy Guerrero, o RV Salters (aka General Elektricks), BNegão, Lucas Santana e o Flu. Procuramos ser bastante econômicos na quantidade de overdubs; então gravamos poucas coisas, tudo muito dosado. Mas fomos muito cuidadosos com a captação, o tipo de instrumento, o tipo de microfone, a sonoridade do disco.

G1 - É possível citar elementos que te inspiraram?

Curumin - Eu acho que é um disco em que eu olho pro passado. Vem daí o nome “Japan pop show”, uma referência à minha infância, às sensações e experiências daquela época. Nessa fase de produção do disco, eu fui percebendo que, talvez, uns 80% do que eu escutava eram sons de 60/70/80. Filme, arte, cultura em geral, eu procurava coisas mais antigas. Comecei a pirar nessa coisa de tradição, de como eram gravados os discos antigamente, de como era inspirada a cultura dessas épocas. Tem até uma música, chamada “Compacto”, em que eu falo um pouco do prazer de se ouvir um bom e velho vinil, mas que fala também desse nosso momento de criação cultural, ou pelo menos de uma das vertentes, em que é preciso pesquisar o passado, descobrir as coisas que ficaram escondidas, redescobrir antigos movimentos, passar a limpo essa história cultural e trazê-la pro presente. "

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